Portugal tem das fronteiras mais antigas da Europa e do Mundo. De norte a sul, contornamos o país pelo interior e descobrimos alguns dos pontos mais importantes que nos unem e separam do nosso único vizinho terrestre, a Espanha.
São terras antigas, com os seus castelos, palcos de batalhas e viagens, cheias de encanto e de história.
Caminha
Começamos junto ao Rio Minho, a noroeste, neste notável concelho limitado a sul por Viana do Castelo, a norte pelo rio, a nascente pelos concelhos de Vila Nova de Cerveira e Ponte de Lima e a poente pelo Atlântico.
É um ponto estratégico, a 90 km do Porto, a cerca de 80 km de Vigo, na Galiza. Para Espanha, aliás, é possível embarcar no ferryboat ‘Santa Rita de Cássia’, que transporta passageiros, automóveis ligeiros e autocarros para a outra margem do Rio Minho. Há também autoestrada, claro, mas uma bem mais bonita estrada atlântica.
Com magníficas praias, paisagens de rara beleza, serra (a Serra d’Arga, com 700 metros de altitude) e rios (Minho, Coura e Âncora), num verdadeiro ‘mosaico de paisagens’, estas terras são ricas em termos ambientais, paisagísticos, recursos naturais, patrimoniais, culturais e gastronómicos, o que possibilita a todos uma qualidade de vida sem par.
A isto some-se o artesanato, a cultura, a gastronomia, prova de que Caminha tem tudo para oferecer a quem a visitar.
Portela do Homem
No limite do belíssimo Parque Nacional da Peneda-Gerês fica a Portela do Homem (em galego: Portela do Home), nome de um passo de montanha sobre a fronteira Espanha-Portugal, na serra do Gerês. Do lado português fica o concelho de Terras de Bouro e do lado espanhol o de Lobios.
Este passo de montanha a 822 m de altitude, numa garganta que desce para a Galiza, foi atravessado em 1384 pela hoste invasora de Henrique de Trastâmara, obrigada a retroceder acossada pelos pastores e pelos frades guerrilheiros comandados pelo abade de Santa Maria do Bouro. A 6 de junho de 1828 por ele passaram as tropas liberais sob o comando do futuro marquês de Sá da Bandeira após o fracasso da revolução liberal de 1828.
Perto encontramos sinais ainda mais antigos, marcos miliários da velha estrada romana que ligava Bracara Augusta a Astorga, e a 822 m de altitude, uma magnífica cascata do rio Homem. Esta cascata está localizada a dois quilómetros da Portela do Homem, numa garganta que desce para a Galiza. Para lá chegar, das Caldas do Gerês, devem seguir em direção à fronteira da Portela do Homem. O lugar não vale só pela cascata e lagoas, mas também por toda a beleza da Mata da Albergaria que acompanha a viagem até lá.
Miranda do Douro
Avançando pela fronteira norte, chegamos a Trás-Os-Montes, tão longe do centralismo lisboeta que tem direito até à sua própria língua. Falamos de Miranda do Douro (em mirandês Miranda de l Douro) no Distrito de Bragança, na chamada Terra de Miranda.
Nesta região, além do português, fala-se o mirandês, segunda língua oficial em Portugal, variante local da antiga língua ásturo-leonesa, própria do antigo Reino de Leão.
Miranda do Douro, a “Cidade Museu” de Trás-os-Montes encontra-se a 86 km da capital do distrito e mantém a sua traça medieval e renascentista. O clima do concelho é de tal forma áspero, que é comum dizer-se que “Em Miranda há nove meses de Inverno e três de Inferno”, mas nada que assuste os mirandeses e os seus visitantes.
Não há restaurante que se preze que não ostente uma ementa plena de iguarias. No Concelho de Miranda é sempre difícil a escolha, aqui os pratos típicos aliciam-nos e “baralham” as dietas… Quando se sentar à mesa num dos muitos restaurantes do Concelho, esquecer-se-á do relógio e render-se-á aos prazeres da gula: Posta à Mirandesa, cordeiro assado na brasa, bacalhau assado, bola doce, tudo bem regado com o vinho da região.
Freixo de Espada à Cinta
Ainda em Trás-os-Montes, ainda no distrito de Bragança, demarcado por uma curva do Douro, encontramos Freixo de Espada à Cinta, a cerca de 180 Km a Nordeste da cidade do Porto, a 400 Km a Nordeste de Lisboa e 100 Km a Sul de Bragança, a uma altitude média de 471m.
O rio Douro passa a 4Km do concelho e serve aí de fronteira entre Portugal e Espanha.
A origem da Vila de Freixo de Espada à Cinta perde-se nas brumas dos tempos, estando a sua fundação e toponímia envolta em lenda. Vários historiadores afirmam que os Narbassos, povo ibérico pré-romano mencionado por Ptolomeu, habitavam toda esta zona da Península, pressupondo-se assim a existência desta povoação anterior à fundação do Reino de Portugal.
É João de Barros que nos diz que a vila “tomou este nome de um que se chama Freixo, que a edificou na destruição de Espanha, e era primo de D. Rezendo que jaz em Cellanova, que fundou o Mosteiro do Monte em Cordova, e trazia por armas uns feixes com uma espada e as pôs nesta vila donde lhe chamam, e isto é o porquê a geração dos Freixes em Galiza traz esta espada por armas.”
Se ele o diz, acreditamos! Ao longo dos séculos, os habitantes de Freixo defenderam-se com grande valentia das tentativas de invasão castelhana no nascer da nacionalidade, sendo recompensados em 1240 com a categoria de Vila, até hoje.
Vilar Formoso
Em 1758, dizia o pároco de então que Vilar Formoso já fora “Terra grande”, a avaliar por algumas ruínas. Hoje, por tudo o que se vê de pé, nota-se que Vilar Formoso continua “terra grande”, sendo a maior vila do concelho de Almeida, com uma população que quase duplica a da própria sede.
Em plena raia, Vilar Formoso é nome conhecido de todos os portugueses, local de defesa da fronteira desde a nacionalidade às Guerras Peninsulares, mas também lugar de passagem, para aqueles que de automóvel, de comboio ou até a pé, foram pela Europa em busca de melhor vida. Generais franceses, espanhóis e ingleses combateram do lado de cá e do lado de Espanha, em Fuentes de Onõro. Emigrantes partiram por lá com tristeza e regressam com alegria.
De visita obrigatória é o edifício da Estação Ferroviária, um bom exemplar da arquitetura do século passado, com admiráveis azulejos e uma velha locomotiva a vapor, símbolo de um tempo em que se investia mais na via-férrea que em estradas e autoestradas.
A partir da década de 80, esta vila sofreu um elevado crescimento a todos os níveis, beneficiando do facto de se situar numa zona fronteiriça. Com a chegada da União Europeia, Vilar Formoso continua como sala de visitas por excelência e ponto de passagem obrigatório, de carro ou de comboio.
Marvão
A utilização dos rochedos de Marvão para refúgio de povoações assoladas por povos invasores, como atalaia ou como ponto estratégico em termos estritamente militares, datará, pelo menos, do período romano. Na sua campanha de 1160/1166, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, terá conquistado pela primeira vez a povoação.
Desde então, sempre que a guerra atravessou a fronteira, a Mui Nobre e Sempre Leal Vila de Marvão esteve na linha da frente: na Crise de 1383-1385, na Guerra da Sucessão de Espanha, nas Guerras Peninsulares e Liberais e até na chamada Guerra das Laranjas, no princípio do séc. XIX, em que Olivença foi anexada por Espanha para nunca mais ser oficialmente devolvida.
Para o visitante, destaca-se o Castelo de Marvão, fortificação estratégica orientada para a fronteira, de que dista uns escassos 13 Km. Constituiu também um eficaz lugar de refúgio e um extraordinário ponto de observação e vigilância, já que dominava claramente a segunda via mais importante de penetração dos exércitos do país vizinho, a partir de Valência de Alcântara, numa vasta zona do Alto Alentejo que vai de Badajoz ao rio Tejo.
E a vista é extraordinária!
Elvas
Elvas é uma das cidades mais bonitas de Portugal e, juntamente com Évora, destaca-se na região alentejana e a poucos quilómetros da fronteira com Espanha. Venha connosco conhecer esta que é a maior cidade fortificada da Europa e reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade.
Para ficarmos a saber mais acerca da história desta cidade, temos que recuar vários séculos até ao tempo dos celtas – considerados uns dos primeiros povoadores desta zona. A eles se seguiram romanos, visigodos e mouros – é com eles que surgem as primeiras fortificações, entre os séculos IX e XII.
O castelo de Elvas tem origem islâmica e apesar de reconstruído nos séculos XIII e XIV, só no século XVI adotou a sua figura atual. Foi o primeiro monumento nacional português e é atualmente parte integrante do conjunto de fortificações e obras anexas consideradas pela UNESCO como Património da Humanidade desde 2012.
Do castelo pode partir em qualquer direção e conhecer outros importantes locais de interesse na cidade.
Destaque para o maior aqueduto da Península Ibérica – o majestoso Aqueduto da Amoreira, magnífico símbolo da arquitetura civil portuguesa construído ao longo dos séculos XVI e XVII. Sendo um dos monumentos de Elvas considerados Património da Humanidade pela UNESCO, tem uma extensão aproximada de 7 km, 843 arcos e uma altura máxima de 31 metros.
Alcoutim
E chegamos ao Algarve, a Alcoutim, o concelho que mais a nordeste se situa na região. A ribeira do Vascão separa-o de Mértola e Almodôvar a norte. A oeste faz fronteira com Loulé e a sul com Tavira e Castro Marim. Longe das multidões e da agitação dos centros turísticos do litoral, Alcoutim é um paraíso de tranquilidade entre a serra do Caldeirão e o rio Guadiana, fronteira natural com a vizinha Espanha.
A presença humana no território poderá remontar ao Paleolítico Médio. Foram descobertos recentemente vestígios arqueológicos deste período, na freguesia do Pereiro. Mas terá sido a partir do Neolítico (5.000 a.C. a 3.000 a.C), que as populações construtoras de megálitos se fixaram um pouco por todo o território de Alcoutim. Os testemunhos dessa presença, antas, menires, tholos ou cistas megalíticas merecem a sua visita.
Os quinhentos anos do domínio islâmico, além da abundante toponímia, deixaram-nos perto de uma centena de sítios identificados. A constituição de Alcoutim não pode ser dissociada da sua posição estratégica do ponto de vista militar, nem da importância do rio Guadiana como via comercial.
A caça, a carne de porco e de borrego e o peixe do rio constituem a base de uma rica e diversificada gastronomia, onde se destaca também uma apetitosa doçaria, reflexo da abundância de mel, figos e amêndoas do Algarve.
Vila Real de Santo António
O ponto final deste nosso percurso pela fronteira é a cidade de Vila Real de Santo António na margem direita do Rio Guadiana, construída em 1774 em menos de dois anos sobre o areal junto à foz do rio. O Marquês de Pombal queria firmar, frente a Ayamonte, a presença portuguesa, controlando o comércio neste importante ponto de fronteira e desenvolvendo as pescas e a indústria conserveira.
A construção transmite aliás a simplicidade e funcionalidade do estilo pombalino, impondo uma sobriedade racional, um traçado geométrico, refletindo o mesmo espírito iluminista da reconstrução de Lisboa após o terramoto.
Todas as ruas confluem para a Praça Marquês de Pombal, onde se situa a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Encarnação construída no séc. XVIII, diferenciada pelas suas capelas laterais, retábulos em estilo “rocaille”. Aqui também encontra-se a o Edifício da Câmara Municipal e o Obelisco, o símbolo iluminista da cidade sobre a calçada portuguesa.
Atualmente, a cidade encontra-se virada para o comércio e turismo, tendo o privilégio de se encontrar na foz do Guadiana (a nascente), junto à praia (a sul), ao pinhal (a poente) e à Reserva Natural do Sapal (a norte). Preserva, no entanto, a cultura de produtos hortícolas e a pesca da sardinha e do atum.