Os D.A.M.A (sigla para a expressão Deixa-me Aclarar-te a Mente Amigo) são um dos mais recentes sucessos da música portuguesa. Francisco Maria Pereira (Kasha), Miguel Coimbra e Miguel Cristovinho formam o grupo musical que conta com fãs de todas as idades.
Em menos de quatro anos o trio lisboeta converteu-se num dos maiores fenómenos da pop nacional: milhares de discos vendidos, discos de platina, concertos esgotados em salas de todo o país e presença nos maiores festivais de Portugal. Kasha falou com a revista GoFord das inquietudes da banda e dos seus projetos. Os D.A.M.A. querem continuar a dar muito que falar e levar a música lusa além fronteiras.
O grupo D.A.M.A define-se como contador de histórias. Quais são as histórias que gostam de contar?
São as nossas histórias. Dizemos que a nossa música é a nossa verdade e a maior parte das vezes são situações da nossa vida que sentimos e passamos para a nossa música. De nós ou das pessoas que conhecemos. Também contamos coisas que queremos dizer, como “Não faço questão” ou “Lá vai lá vai” com uma mensagem diferente, sobre a nossa maneira de ver a vida.
É por isso que sentem que conectam tão bem com as pessoas?
Isto é a nossa verdade e as pessoas também o sentem. Assim nós expressamos, as pessoas acabam por se identificar e fazem das nossas músicas as músicas delas. E o nosso maior objetivo. É lindo estar encima do palco e ver cantar a 60.000 pessoas uma música que fizemos dentro de um estúdio.
Quais são as principais preocupações dos jovens portugueses entre os 25 e 30 anos, como os componentes dos D.A.M.A.
Nós estamos onde estamos porque tomamos uma decisão na nossa vida. Os três trabalhávamos e decidimos tentar fazer o que realmente gostávamos, a música. Muitas vezes as pessoas não arriscam por elas e acabam por se deixar levar. Temos uma bolsa de talentos D.A.M.A. que sorteamos cada seis meses onde qualquer pessoa com qualquer talento pode enviar-mos o seu vídeo e nós escolhemos um para apoia-lo. Gostávamos que as pessoas acordassem como nós, contentes por ir trabalhar, porque somos o que fazemos. Não conseguimos estar a fazer algo que não gostamos, a vida e curta de mais para isso.
Há quatro anos que se houve falar mais dos D.A.M.A. mas o grupo tem um percurso muito mais longo. Começou como um hobby?
Sempre foi um hobby, mesmo quando começamos a dar concertos. Nunca entrou na nossa cabeça sermos o que somos hoje. Havia uma parte do dia que íamos escrever canções, a partir dos 14 anos. Desde os 6 que Miguel e eu andamos na mesma turma e desde os 10 que escrevemos poemas. Foi tudo muito natural.
Os três transmitem uma união muito especial. É assim mesmo?
Somos quase irmãos. Miguel Coimbra estávamos sempre juntos, desde os seis anos. Os três somos diferentes, cada um com a sua individualidade e depois temos uma química pessoal e musical, em virtude de nos conhecermos tão bem e de passar tanto tempo juntos. Os últimos quatro anos vivemos tanta coisa juntos….Não sabemos o que é viver sem sermos amigos.
No início estava uma rapariga, a Pipa.
Sim, mas fazia mais backing vocals, estava no início e acabou por sair da banda. Conhecíamos ao Cristovinho e fizemos uma música com ele em 2007. Acabamos por lhe convidar e foi a melhor decisão que tomamos.
O que aporta cada componente ao grupo?
O que sai é o resultado da junção do que cada um dos três. Opinamos sobre tudo e a música está no primeiro lugar. Eu estou mais dedicado ao processo de letras e melodias, Cristovinho faz também melodias e arranja as linhas de acorde para música e guitarra e Miguel trata to trabalho de produção.
Quando o convívio é tão intenso, não está em risco a amizade?
Não. Nós não vivemos com egos, somo 100% abertos e sinceiros e acho muito difícil nos chatearmos. Somos mais família do que muitas famílias que eu conheço. Entre nós é só amor (risos)
Falemos da vossa música. Em 2014 chega o primeiro álbum. Foram 19 semanas no primeiro lugar. Estavam à espera de um salto assim?
Nós optamos por nunca esperar muito de nada. Muitas pessoas estão presas às expectativas. Nós somos terra à terra, fazemos a nossa verdade dia a dia. Foi incrível o que aconteceu então, estamos muito agradecidos às pessoas. Somos ambiciosos e sempre pensamos em coisas novas mas se consegues ter os pés no chão tens uma calma diferente.
Mas tudo mudou na vossa vida.
Sim, tudo mudou. As coisas acalmaram só este ano porque quisemos ter menos concerto e mais tempo em estudo. Na altura parecia que o comboio estava a passar, chegamos a dar até 200 concertos num ano.
Como foi passar de ter uma vida anónima a ser muito conhecidos?
No início nem tivemos tempo para reparar porque andamos sempre a dar concertos. Ninguém nos via, só no palco. Não nós influenciou muito e deve-se em grande parte à boa educação que os nossos pais nos deram. Felizmente nunca nos faltou de nada e educaram-nos para não nos deslumbrarmos e a fazer as coisas por nós e a nossa cabeça. Há sempre um choque, e vais mudando mas nada que nos deslumbre.
O terceiro álbum, Lado a lado, é um álbum mais sinceiro.
Todos os nossos albumes são a sinceridade daquele momento. A medida que cresces apercebes-te de quem tu és e este álbum foi construído numa altura na qual passamos por muita coisa, boas e más. Pusemos tudo no álbum com um lado mais acústico e outro mais digital. Não temos propiamente um estilo de música, procuramos criar a nossa identidade e sermos nós em qualquer instrumental. Somos influenciados por todos. Temos músicos de jazz, música clássica….queremos ser influenciados por todos e beber um pouco de tudo.
Há algum concerto mais inesquecível que outro?
O concerto de Rock in Rio com 90.000 pessoas à chuva e nós à chuva com eles foi um momento mágico. Avenida dos Aliados, Meo Arena, concertos pequenos… cada um é especial mas de facto Rock in Rio foi mágico.
Já fizeram muitas colaborações internacionais.
Temos por hábito a colaboração de um artista brasileiro. Não pensamos muito à priori. Fazemos a música e vamos à procura das pessoas. Tivemos oportunidade de trabalhar com artistas muito talentosos e tornaram o álbum melhor do que era.
Quais são os planos de este ano para os D.A.M.A?
Ainda faltam muitos concertos. Compomos e produzimos canções para outras pessoas, em Portugal e fora do país e estamos concentrados nisso. E na vertente internacional da banda. Se conseguimos pela primeira vez levar a música mais longe…. vamos tentar. É uma coisa que sempre perspetivamos mas que só agora pensamos que podemos dar esse salto.
Em que países?
Temos feito coisas com América Latina e com Espanha e brevemente vamos entrar no mercado brasileiro. Como D.A.M.A. e como compositores e depois ver para onde isso nos leva.
É um bom momento para a música portuguesa?
É um momento espetacular. As rádios estão a passar muita música portuguesa e muitos portugueses ouvem e sentem a música portuguesa. E ainda bem porque isto permite a chegada de novos artistas.
Já pensaram em cantar em inglês?
É muito complicado para nós porque a nossa verdade é sentir em português e as palavras e as letras são muito importantes para nós. Acreditamos que em inglês não conseguiríamos nos expressar de uma forma tão verdadeira.
O que é que os vossos fãs ainda não conhecem dos D.A.M.A.?
Temos uma relação muito pessoal com as pessoas que vão ao nosso concerto. Normalmente sabemos o nome das pessoas que estão nas primeiras dez filas. Há pessoas que já foram a 50 concertos nossos porque gostam o que cantamos. Temos público dos 8 aos 80 anos e ótimo para nós. Como artistas queremos chegar ao maior número de pessoas possível.
Daqui a 20 anos, ainda vão existir os D.A.M.A.?
Acho que sim, enquanto tivermos canções para escrever vamos estar por cá. Vamos continuar a fazer as coisas com amor que é o que temos feito, e com verdade.