Conheça os novos doces de Portugal, percorrendo aldeias que estão a transformar a antiga pastelaria do nosso país.
A tradição gastronómica portuguesa é rica em doces, dos mais modestos bolos de pastelaria aos clássicos conventuais, passando pela renovação dos mais conhecidos, como o mais famoso deles todos, o pastel de nata.
Agora que chegou o Verão, aproveite para viajar connosco a bordo do seu Ford e descobrir os melhores doces de Portugal.
Arroz Doce
Encontramos esta sobremesa em todo o país, em romarias e casamentos, com ou sem gemas, mas sempre polvilhado com canela. Uma receita cremosa que sacia as memórias de qualquer um. Dizem os especialistas que um bom arroz doce é o elemento que define a qualidade de um restaurante.
Os ingredientes são simples: arroz, leite, açúcar e uma casquinha de limão. As gemas de ovo podem ajudar a dar cor e uma pitada de sal pode dar um toque de contraste delicioso. A consistência, mais ou menos cremosa, mais ou menos doce, fica ao gosto do cozinheiro.
Não querendo cometer qualquer heresia, no norte do país, o arroz pode ser substituído por uma massa muito fina e, deste modo, passamos a ter a aletria. Uma sobremesa tradicional na mesa de consoada.
Bolo de Mel
Por falar em Natal, saltemos até ao meio do Atlântico e provemos o Bolo de Mel da Ilha da Madeira. Diz a tradição que o Bolo de Mel deve ser preparado à volta do dia 8 de Dezembro, de forma a apurar e ganhar a consistência e sabor únicos até ao dia 25. Resiste a esperas e viagens como nenhum outro bolo.
Na confeção do Bolo de Mel entram ingredientes regionais e únicos como o mel de cana e o mundialmente famoso Vinho Madeira. Diz quem sabe que o truque está nas especiarias: erva-doce, vários tipos de cravinho e noz-moscada, além, claro, das amêndoas, nozes e passas.
É um bolo de festa muito saboroso e dura, e dura, e dura…
Dom Rodrigo
Os doces Dom Rodrigo são doces de origem conventual e tradicionais do Algarve. Na sua confeção, são usados aqueles que talvez sejam os ingredientes mais comuns da doçaria portuguesa: açúcar, amêndoas e gemas de ovo.
Foram os árabes que espalharam as amêndoas pelo Algarve, mas reza a lenda que o Dom Rodrigo deve o nome a um ilustre clérigo de Tavira do Século XIV, que terá pedido à cozinheira um sabor novo para provar.
Depois de várias tentativas, nasceu este novo doce, apresentado ao patrão numa tosca pirâmide embrulhada em papel metalizado colorido, forma que guarda até aos nossos dias.
Leite-creme
Há por toda a Europa variações deste doce feito à base de leite, ovos e coberto de açúcar, de preferência queimado na hora.
Claro, o nome original, crème brûlée, é francês, mas reza a história que a verdadeira origem é inglesa e o primeiro nome foi burnt cream, uma receita inglesa aromatizada com vagens de baunilha.
Contudo, Thomas Jefferson, presidente norte-americano, grande apreciador da culinária francesa, mudou-lhe o nome para francês. Em Espanha, este doce é conhecido como crema catalana, originário de um convento da Catalunha, de meados do século XVIII. Claro que os catalães também se consideram ser os autores originais da sobremesa.
Revista a lição de história, existe uma diferença fundamental na versão portuguesa do doce, feito ao lume, enquanto se vai mexendo tranquilamente o leite e a farinha, e não, como os seus congéneres, cozinhado no forno em banho-maria. Simples e popular, vale a pena provar a diferença.
Pão de Ló
É um dos bolos mais simples de preparar e base de muitas e elaboradas sobremesas decorativas, de vários andares. Este bolo esponjoso foi criado pelo cozinheiro genovês Giovan Battista Cabona e, na receita original, era elaborado com ovos, açúcar e farinha de trigo sem fermento ou xarope.
Portugal, contudo, é um país de grande criatividade e podemos encontrar diferentes versões de pão de ló em muitas localidades, umas mais cremosas, com o centro a desfazer-se em doce de ovos, outras mais bem cozidas.
Ao volante do seu Ford faça um mini-roteiro por alguns dos pães de ló mais famosos do país: o de Alfeizerão, o de Margaride (Felgueiras), o de Arouca e, a joia da coroa, o pão de ló de Ovar. E já que está na zona, não se esqueça dos ovos moles!
Pastel de Nata
Por falar em joia da coroa, o mais internacional e famoso dos doces portugueses é o pastel de nata. Chefs internacionais, como Jamie Oliver, já propuseram versões próprias, mas olhemos primeiro para o original.
No início do séc. XIX, em Belém, os clérigos do Mosteiro dos Jerónimos puseram à venda uns pastéis de nata – dos conventos portugueses nasceram os melhores doces do país! A zona, na altura ainda separada de Lisboa, atraía inúmeros turistas que rapidamente contribuíram para difundir a fama dos Pastéis de Belém.
Na sequência da revolução liberal de 1820, o pasteleiro do convento decidiu vender a receita a um empresário português que logo viu a oportunidade de negócio. Em 1837 foi inaugurada “A antiga confeitaria de Belém”, que persiste até hoje.
Tanto a receita original como o nome “Pastéis de Belém” estão patenteados, mas hoje, este doce, com uma crosta crocante e um interior delicioso, vende-se em qualquer pastelaria e é um embaixador de Portugal no mundo.
Pudim Abade de Priscos
É verdade que a nossa rota de doçaria parece ter qualquer coisa de religioso, mas a verdade, também, é que se os monges da Bélgica, por exemplo, faziam cerveja, os monges portugueses dedicavam-se ao açúcar.
Venha connosco até Braga conhecer o pudim Abade de Priscos, típico da cidade. É uma das poucas receitas que o dito abade deu a conhecer ao público, tendo sido ensinada no Magistério Primário feminino de Braga, no antigo Convento dos Congregados.
O pudim é confecionado num tacho de latão ou cobre e a lista de ingredientes é tão inesperada quanto o resultado é delicioso: meio litro de água, meio quilo de açúcar fino ou pilé, uma casca de limão, um pau de canela, cinquenta gramas de toucinho de presunto fatiado muito fino, quinze gemas e, por fim, açúcar em caramelo.
O Pudim de Abade Priscos deverá ficar com uma consistência delicada, gelatinosa e que se “desfaz na boca”. É provar para crer e querer!
Queijada de Sintra
A nossa costela romântica leva-nos sempre às curvas e contracurvas da Serra de Sintra, com a floresta única, as vistas para o mar, os palácios e chalés. Um mundo a não perder. Byron não nos deixa mentir. Da doçaria da vila, podíamos ter escolhido os travesseiros ou os pastéis de cruz alta, mas seria uma traição se a escolha não recaísse nas queijadas.
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A origem e história das deliciosas Queijadas de Sintra perdem-se na época medieval, sendo conhecidas pelo menos desde 1227. Sintra possuía excelentes pastagens e excesso de queijo fresco. E exatamente com este produto é fabricado este doce, juntando açúcar, ovos, farinha e um pouco de canela. Tudo envolvido numa massa crocante e estaladiça.
Por incrível que possa parecer, as queijadas eram usadas como pagamento de foros e rendas, mas a sua industrialização começou apenas entre o séc. XVIII e XIX, vendidas em pacotes de meia dúzia. Talvez a referência mais famosa a este doce seja a que podemos ler em Os Maias de Eça de Queiroz.
Sericaia
Sim, a Sericaia tem também marcas da doçaria conventual, mas é igualmente um ilustre representante do cruzamento de culturas que levou a gastronomia portuguesa ao mundo e trouxe o mundo até aos nossos pratos.
A Sericaia é típica da região do Alentejo. A origem, contudo, é provavelmente indiana, e tornou-se, mais tarde, muito popular no Brasil, onde existem versões paulistas e baianas deste doce. É também conhecida por Sericá ou Cericá. Tem as tais marcas da doçaria conventual, com a utilização abundante de ovos, açúcar e canela. Deve ser cozida no forno de pão e servida em prato de barro.
Venha connosco até Elvas ou Vila Viçosa, localidades onde este doce fofo é sempre acompanhado com compota de ameixas de Elvas (Ameixas Rainha Cláudia), de preferência com o fruto inteiro.
Foto de capa: DianaRui