Descubra os principais vestígios que esta cultura deixou em Portugal, como as ruínas de Conímbriga ou o espetacular circo romano de Santiago do Cacém.
O que é que os romanos fizeram por nós? A pergunta é de A Vida de Brian, a genial comédia inglesa dos Monty Python, mas as respostas, no caso português, vão de norte a sul e vale a pena pegar no seu Ford e vir connosco descobri-las.
Foram quase 700 anos de presença romana na Península Ibérica e, para além da cultura, da língua, das estradas, do direito e da ciência, ficaram as ruínas que hoje nos permitem descobrir os vestígios desta presença ao longo de uma incrível viagem no tempo.
Ponte de Trajano (Chaves)
Começamos o percurso em Trás-os-Montes, na antiga Aquae Flaviae, Chaves, cidade termal situada numa região famosa pelas águas com propriedades medicinais. Os romanos já o sabiam.
Esta ponte com doze arcos de volta perfeita (mais seis soterrados debaixo de construções numa e noutra margem do rio) foi construída no tempo do imperador Trajano, entre o primeiro e o segundo séculos depois de Cristo. Erigida em granito, resistiu a cheias, à força do Tâmega e, ainda nos anos 50 do século XX, era um dos principais pontos de acesso à cidade, por onde o trânsito circulava todos os dias.
Hoje, a ponte romana de Chaves é apenas pedonal, mas permanece um dos ex-líbris da cidade.
Termas romanas de São Pedro do Sul
Continuamos por localidades termais, descendo até à margem esquerda do rio Vouga, em São Pedro do Sul. Aqui, os romanos erigiram um balneu, um balneário destinado a aproveitar as águas sulfúreas que brotam da terra a 68,7 graus.
Dessa época podem ainda ser contemplados, para além dos restos de uma piscina, troços de fustes, capitéis de grandes colunas e lápides com inscrições. No epicentro, classificado como monumento nacional, está a chamada Piscina de Dom Afonso Henriques, na qual, segundo reza a tradição, o nosso primeiro rei se terá curado de uma fratura sofrida na malograda batalha de Badajoz, em 1169.
Em 1894 foram criadas, ao lado, novas instalações termais (o Balneário Rainha D. Amélia) e aí permanecem ainda as Termas de São Pedro do Sul, as mais visitadas do país.
Ruínas de Conímbriga
A dezassete quilómetros de Coimbra, na freguesia de Condeixa-a-Velha, encontramos as ruínas de Conímbriga, povoação estabelecida na Idade do Cobre e que foi um importante centro durante a República Romana. A cidade foi habitada, pelo menos, até ao século IX. É um dos mais extensos e diversificados sítios arqueológicos de que há registo em Portugal, tendo sido palco de escavações desde o século XIX.
Segundo os registos conhecidos, a primeira chegada dos Romanos remonta ao ano 138 a.C., mas apenas na época de Augusto Conímbriga seria reformada. O imperador romano enviou arquitetos para remodelar a povoação, mandando erguer um fórum, um anfiteatro, criar termas e dotar o lugar de uma muralha.
Hoje, além das ruínas, é possível visitar no Museu Monográfico de Conímbriga o resultado das inúmeras escavações que, desde há quase dois séculos, têm trazido novos achados à luz do dia.
Vila Cardílio (Torres Novas)
A 3 km da cidade de Torres Novas, próximo de Caveira, encontramos uma habitação rústica romana, a Vila de Cardílio ou Vila Cardílio (em latim: Villa Cardillio). É um de 28 sítios onde foram encontradas marcas da ocupação romana na região.
Estas ruínas foram escavadas em 1962. Deste trabalho foi recolhido um espólio de centenas de moedas dos séculos II, III e IV, além de cerâmicas, bronzes, ferros, vidros assírios e do Egito, estuques coloridos, anéis, pedras de coar e uma estátua de Eros.
As escavações permitiram ainda descobrir um conjunto de alicerces, bases de colunas e pavimentos ornamentados com diversos padrões de “tesselas” pertencentes a uma antiga quinta romana.
A Vila Cardílio é prova da sofisticação da arquitetura e decoração romanas: na zona há uma casa de esclarecimento, com mosaicos, com um sistema de aquecimento da casa, termas e pátio interior.
Ammaia (Marvão)
Em pleno Alentejo, junto à bonita vila de Marvão, no coração do Parque Natural da Serra de São Mamede, encontramos as ruínas de uma cidade romana. A descoberto estão já cerca de 3.000 m2, mas pensa-se que a área ocupada originalmente seria de 25 hectares.
Ammaia foi elevada a Civitas por volta do ano 44/45 d.C., tendo obtido o estatuto de Mvnicipivm ainda durante o séc. I d.C.. No entanto temos apenas informações que nos chegam do reinado de Lúcio Vero, no ano de 166 d.C.
O curioso destas ruínas é que entre os séculos V e IX terão sofrido os efeitos de um cataclismo que terá soterrado a parte baixa da malha urbana. Trata-se assim de uma das poucas cidades do império que, por efeitos provavelmente naturais, ficou conservada e sobre a qual não se desenvolveram outras urbanizações ao longo da história.
Pode-se, deste modo, estudar toda a malha urbana de uma cidade Romana, tendo-se desde já destacado importantes estruturas, como o podivm de um templo provavelmente do século I, a existência de termas públicas e outras estruturas domésticas.
Ruínas do teatro Romano de Lisboa
Lisboa é um palimpsesto de civilizações e as marcas romanas são muitas. Na encosta do Castelo de São Jorge, num local privilegiado com uma magnífica vista sobre o rio Tejo, estão os vestígios de um dos mais emblemáticos edifícios romanos da antiga cidade de Felicitas Iulia Olisipo, o Teatro.
O teatro foi construído no século I, no tempo do imperador romano Augusto, e reconstruído no tempo do imperador Nero. Durante o reinado de Constantino foi parcialmente desmantelado. Abandonado no século IV, permaneceu soterrado até 1798, ano em que as ruínas foram descobertas, após o terramoto de 1755.
No local, hoje é possível visitar um Museu que exibe, para além da exposição de longa duração, o campo arqueológico, onde está localizado o teatro e, no interior, outros testemunhos arqueológicos anteriores e posteriores, abrangendo um longo período que se estende do séc. IV a.C. ao séc. XVII.
Ruínas romanas de Tróia
Descendo a costa ocidental e atlântica, encontramos na península de Tróia o maior complexo de produção de salgas de peixe conhecido no Mundo Romano, com vestígios de edifícios construídos entre o séc. I e o VI. Também aqui está a Basílica Paleocristã de Tróia, tida como uma das mais antigas da Península Ibérica e uma das mais bem conservadas.
As estruturas mais características de Troia são as muitas oficinas de salga de peixe, cuja produção era exportada para todo o Império. Além disso, as ruínas abrangem ainda um núcleo habitacional com casas de rés do chão e primeiro andar (as chamadas “Casas da Princesa”), várias necrópoles, um columbário, termas e uma roda de água (rota aquaria).
A visita está acompanhada de painéis explicativos e são múltiplas as atividades que se podem fazer em família. Informe-se!
Templo romano de Évora
É verdade que, ainda hoje, o templo romano de Évora é por vezes chamado de Templo de Diana. Sabe-se, contudo, que a associação à deusa romana da caça teve origem numa lenda criada no século XVII.
Na realidade, o templo foi construído provavelmente em homenagem ao imperador Augusto, que era venerado como um deus durante e após o seu reinado. O templo foi construído no século I d.C. na praça principal (fórum) de Évora – então chamada Liberalitas Julia – e modificado nos séculos II e III. Évora foi invadida pelos povos germânicos no século V e, nesta época, o templo foi destruído. Hoje em dia, as ruínas do templo são os únicos vestígios do fórum romano na cidade.
É talvez o monumento mais fácil de encontrar. Está localizado na freguesia da Sé e São Pedro, no Largo Conde de Vila Flor, rodeado pela Sé de Évora, pelo Tribunal da Inquisição, pela Igreja e Convento dos Lóios, pela Biblioteca Pública de Évora e pelo Museu.
Vila de São Cucufate (Vila de Frades)
A Vila romana de São Cucufate é um conjunto de ruínas romanas da vila romana Áulica do século I d.C. em Vila de Frades. Este sítio arqueológico reúne vestígios de termas, jardim e um templo, posteriormente adaptado ao culto cristão.
A origem do sítio arqueológico de São Cucufate remonta à ocupação romana, século I, com registo de várias alterações ao longo do tempo. No século II foi feita uma segunda edificação e a casa terá sido refeita no século IV para dar origem a uma vila palaciana, cujas ruínas monumentais permanecem hoje, supondo-se que terá sido uma próspera casa agrícola.
Subsistem vestígios de um jardim com um tanque de pedra que poderá ter sido utilizado como piscina, um hábito comum numa região quente. A entrada fazia-se por três escadarias que davam acesso a uma zona elevada descoberta, e que se prolongava por uma área coberta e por uma abóbada de que se vislumbram alguns vestígios.
A norte da zona termal são visíveis os muros que delimitavam a área de trabalho da propriedade, com os aposentos dos criados ou escravos que se ocupavam da agricultura e um lagar.
Ruínas de Milreu (Faro)
Chegamos finalmente ao extremo sul do país, ao Algarve. Localizada a poente da aldeia histórica de Estoi, a 8 km de Faro, a Villa Romana de Milreu revela uma ocupação romana continuada do século I ao século XI. Terá sido habitada por famílias de elevado estatuto social e político, às quais eram proporcionadas as necessidades não só de um quotidiano rural, como também de grande vivência lúdica.
No século IV, foi erguido um edifício religioso ricamente decorado e ainda hoje conservado, destinado ao culto privado da família. Cristianizado no século VI, o templo viria a servir também o culto islâmico até ao século XI. Entre os séculos. XVI e XIX, e sobre as divisões privadas da antiga casa romana, foi erguida uma casa rural com contrafortes cilíndricos.
A riqueza desta villa rústica está patente no importante volume de achados arqueológicos, como mosaicos de temática predominantemente marinha, revestimentos marmóreos e cerâmicos diversos, estuques pintados e escultura decorativa.
Foto de capa: StockPhotosArt