Claro que pode procurar o selo que certifica a origem local e regional de um determinado produto e consumi-lo em quase todo o lado, dentro e fora de fronteiras, mas desafiamo-lo a entrar no seu Ford e a vir connosco descobrir cinco destes sabores únicos na terra que os viu nascer.
Portugal é um país de boa comida e boa bebida, isso é sabido. São dezenas os produtos protegidos pela denominação D.O.P. (Denominação de Origem Protegida), que indica um sabor único de uma região geográfica, mantido ao longo dos séculos pela convergência dos fatores naturais, do clima, da tradição e de quem a mantém.
Se quiser, pode conhecer a lista completa aqui. Mas os cinco que damos a conhecer neste artigo estão entre os mais especiais. Anima-se a conhecê-los ao volante do seu Ford?
Ananás dos Açores / São Miguel
Para variar, comecemos no meio do Oceano Atlântico, na ilha de São Miguel do arquipélago dos Açores, numa terra de vulcões e de verde, de clima quase tropical, em que, diz-se, podemos experimentar todas as estações do ano num único dia.
Na Quinta Augusto Arruda, plantam-se ananases há cem anos e o sabor não engana. Na primeira metade do século XX, esta plantação foi um dos maiores exportadores de ananases para todo o mundo. Depois da II Guerra Mundial, com o renascer do turismo, a quinta manteve uma atenção especial à preservação dos métodos originais de produção, permitindo ao número crescente de visitantes descobrir o fruto maravilhoso, mas também o doce que com ele se faz, o licor e todo o restante artesanato da ilha.
Trazido do Brasil pelos navegadores portugueses, o ananás foi introduzido em São Miguel nos séculos XVII-XVIII e é cultivado hoje em dia em estufas clássicas, tradicionais da ilha, situadas sobretudo na costa sul, mais quente e soalheira. Inicialmente considerado como uma curiosidade botânica, a produção deste fruto ganhou relevo a partir do século XIX, graças sobretudo ao esforço de gerações de agricultores que, persistentemente, foram aperfeiçoando as técnicas de cultivo que conferem características específicas ao ananás dos Açores.
Se for hora de comer, convidamo-lo a dar um salto à Tasca, em Ponta Delgada, onde poderá beber um bom vinho a copo, petiscar, ouvir boa música, ver exposições, ler e muito mais num ambiente descontraído onde não faltam os produtos típicos da região e entre eles, claro, o ananás.
- Quinta Augusto Arruda.
- A Tasca (Ponta Delgada).
Borrego da Serra da Estrela
Conhecido também como “borrego de canastra”, o borrego da Serra da Estrela é de raça Bordaleira, de cor branca, com carne macia saborosa e, claro, leite particularmente útil para a produção do queijo Serra da Estrela, o mais afamado do país. Há inúmeros estudos e registos históricos que confirmam a milenar criação de ovinos e a produção de queijo nesta região.
Para provar o borrego e os deliciosos produtos típicos da zona, aconselhamos uma visita ao restaurante da Quinta da Madre de Água, em Vinhó, concelho de Gouveia, no sopé da Serra da Estrela: são 16 hectares de oliveiras, carvalhos, castanheiros, pinheiros, cerejeiras centenárias, formações rochosas da era Glaciar e muitos poços de água.
No restaurante, são preparados pratos com os melhores produtores de carne e enchidos da região e com os produtos frescos colhidos nos pomares e na horta biológica da quinta. Para rematar, o azeite, o queijo e o vinho também são produzidos na propriedade. Se ficar no hotel, ao pequeno-almoço, é obrigatório provar os irresistíveis iogurtes caseiros, naturais ou com fruta da quinta, outro dos produtos de eleição.
Para comungar ainda mais com a região, aconselhamos uma visita à Quinta de Santo António do Rio, estabelecimento de agroturismo em Celorico da Beira, onde poderá pernoitar mas, melhor ainda, provar no restaurante os melhores sabores da região. Destacamos o atendimento caloroso e familiar e, como não podia deixar de ser, o borreguinho grelhado, a iguaria que nos trouxe até aqui.
- Madre de Água (Vinhó).
- Quinta de Santo António do Rio (Celorico da Beira).
Pêra Rocha do Oeste
Deixemo-nos de carnes por um momento e vamos à fruta! A Pêra Rocha do Oeste é o fruto da variedade de pereira «Rocha». É uma variedade portuguesa, tendo o seu solar na região do Oeste. A polpa da Pêra Rocha do Oeste é branca e macia (nada da dureza da rocha, não se enganem), fundente, granulosa, doce, não ácida, muito sucosa e de perfume ligeiramente acentuado.
E de onde vem o seu nome, então? Há mais de 180 anos, em 1836, foi identificada no concelho de Sintra, na propriedade do Senhor Rocha, uma pereira diferente, com frutos de qualidade invulgar, e a partir dessa árvore espalhou-se a variedade, reconhecida oficialmente quase um século depois, em 1932.
O restaurante da Quinta do Gradil, no Cadaval, funcionava em tempos como celeiro da quinta para armazenamento de cereais, mas está hoje integrado no edifício da adega, e desfruta de uma envolvente idílica, com uma paisagem privilegiada de vinhas e montanha, visível das grandes janelas. O ambiente está em sintonia com o que se bebe à refeição, oferecendo uma fusão entre conforto, elegância e ruralidade. São muitas as iguarias no menu, mas permitam-nos destacar, de entre as sobremesas, o Arroz doce com gelado de pera do oeste ébria.
Descendo a Lisboa, para percebermos a versatilidade do fruto, entremos no Eighty Six Cocktail Bar, na Rua do Telhal, para descobrir o Pyrus, um cocktail precisamente inspirado na pêra rocha portuguesa. Leva gin, licor Disaronno, sumo de toranja, xarope floral e de mel, clara de ovo e, obviamente… pêra rocha.
Não se esqueça, contudo, quer prove os bons vinhos da Quinta do Gradil, quer os cocktails do 86, se conduzir, não beba!
- Quinta do Gradil (Cadaval).
- 86 (Lisboa).
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Ameixa d’Elvas
Continuamos na fruta, mas, agora, vamos até ao Alentejo. Conhecida localmente como abrunho, a Ameixa d’Elvas, pertencente à variedade Rainha Cláudia, é famosa desde a fundação de Portugal, dos tempos de Afonso Henriques, e a sua fama já vai longe, da Grã-Bretanha à América, passando por Paris. Diz-se que o próprio Lord Wellington pediu para lhe ser servida esta fruta, enquanto ajudava os portugueses na luta contras as invasões napoleónicas.
A sua produção certificada está circunscrita aos concelhos de Alandroal, Borba, Estremoz e Vila Viçosa, no distrito de Évora, e aos concelhos de Campo Maior, Elvas, Monforte e Sousel no distrito de Portalegre. O clima e o solo desta região juntamente com as altas temperaturas registadas particularmente no tempo do amadurecimento da fruta resultam em frutas muito doces, vendidas frescas (Ameixa Fresca), secas (Ameixa em Passa) ou em calda.
No Restaurante Pompílio, na aldeia típica de São Vicente, na estrada entre Elvas e Portalegre, encontramos o cenário ideal para provar as iguarias da zona. A doçaria, claro, é uma das grandes especialidades e não podemos deixar de recomendar a Sericaia com Ameixa d’Elvas, de comer e chorar por mais.
Se quiser pernoitar, para descobrir a região, aconselhamos o Hotel Dom Luís em Elvas, junto ao Aqueduto da Amoreira. Para além dos 88 quartos, tem também um bar, esplanada, piscina exterior e restaurante, onde se recomenda ensopado, porco, borrego, ervas, migas, gaspacho, caça, sericaia e, como não podia deixar de ser… Ameixa d’Elvas.
- Restaurante Pompílio (São Vicente).
- Hotel Dom Luís (Elvas).
Queijo de Nisa
São muitos, variados e deliciosos os queijos do nosso país e um queijo será um bom ponto final neste breve percurso.
O Queijo de Nisa é conhecido desde longa data na região do Alentejo, fazendo parte do quotidiano do povo de Portalegre há várias gerações. É um queijo curado, produzido por queijarias locais, obtido a partir de leite cru de ovelha, da raça regional Merina Branca. A área geográfica de produção abrange os concelhos de Nisa, Crato, Castelo de Vide, Marvão, Portalegre, Monforte, Arronches e Alter do Chão, no distrito de Portalegre.
Situada no centro histórico de Nisa, a Taverna da Vila aloja-se numa adega rústica e fresca, sem necessidade de ar condicionado, e convida os comensais a degustar a gastronomia regional, com um toque de inovação. Preocupação central é a escolha dos produtos que compõem a ementa, adquiridos no mercado regional. Destes, claro, prove o queijo com bom pão alentejano.
Como alternativa, também em Nisa, sugerimos o restaurante Flor do Alentejo, cuja especialidade são grelhados e caça (sugerimos também o arroz à marinheiro, as febras de coentrada ou a perna de borrego assada). O serviço é amistoso e informal, o local agradável e a comida excelente.
- A Taverna da Vila (Nisa).
- Flor do Alentejo (Nisa).